Uma pesquisa inédita conduzida em 10 unidades prisionais da região metropolitana de São Paulo revelou que a renda mensal média de indivíduos envolvidos em crimes econômicos, quando em liberdade, alcançava R$ 46.333. O levantamento, liderado pelo economista Pery Shikida, da Unioeste, entrevistou 408 detentos e indicou que os ganhos ilícitos superavam em 12,9 vezes os valores obtidos por eles em atividades legais, cuja média era de R$ 3.595,96.
Esse estudo integra uma série de iniciativas conduzidas por Shikida ao longo de duas décadas, nas quais ele coleta dados diretamente em presídios brasileiros. No caso de São Paulo, o projeto teve autorização da Secretaria da Administração Penitenciária e do Poder Judiciário, e foi realizado ao longo de oito meses, entre setembro de 2023 e abril de 2024.
Os entrevistados, majoritariamente homens (74,8%), relataram atuação predominante em roubos (68,6%), tráfico de drogas (60,8%) e furtos (43,1%). Em menor proporção, apareceram crimes como receptação, estelionato, latrocínio e associação ao tráfico. Profissões anteriores variavam de ajudante geral a cabeleireira, e 7,8% declararam viver exclusivamente da prática criminosa.
Quando questionados sobre a percepção do custo-benefício do crime, 91,2% dos detentos afirmaram que os benefícios superaram os custos, reforçando a lógica da teoria econômica do crime proposta por Gary Becker. Segundo os pesquisadores, “com os benefícios maiores do que os custos, o crime compensa”.
Apesar disso, a maioria dos presos também apontou fatores que poderiam desestimular a prática criminal. Aumentos de pena (19,8%), pena de morte (31,1%) e prisão perpétua (8,6%) foram mencionados, assim como investimentos em educação e trabalho. Para os pesquisadores, políticas públicas que promovam oportunidades legais e leis mais críveis seriam fundamentais na redução dos índices de criminalidade.
Ainda segundo a pesquisa, travas morais como religião, família e escola têm sido insuficientes para impedir a adesão ao crime. Embora 46,6% dos detentos se identifiquem como evangélicos e 21,8% como católicos, apenas 48,5% afirmaram praticar sua religião, indicando fragilidade na função inibidora dessas crenças.


