Na segunda-feira (28), faleceu em São Paulo Jacira Roque de Oliveira, conhecida como Dona Jacira, aos 60 anos. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa de seu filho, o produtor musical Evandro Fióti. Ela estava hospitalizada na capital paulista, porém a causa exata da morte não foi revelada pela família.
A nota oficial divulgada pelos filhos destacou o papel multifacetado de Dona Jacira: “Mãe, avó, escritora, compositora, poeta, artesã e formada em desenvolvimento humano, como gostava de ser reconhecida.
Dona Jacira foi uma mulher detentora de tecnologias ancestrais de sobrevivência e resistência que construíram um legado enorme para as artes e para a cultura afrobrasileira”.
Trajetória de vida
Nascida na Zona Norte da capital paulista, Dona Jacira cresceu nos bairros Jardim Ataliba Leonel e Jardim Cachoeira. Viveu uma infância marcada por dificuldades, sendo internada em um convento ainda menina e se casando aos 13 anos. Criou sozinha os quatro filhos — Katia, Katiane, Leandro (Emicida) e Evandro (Fióti) — após o fim do casamento.
Embora tenha trabalhado como empregada doméstica e técnica em enfermagem, foi na maturidade que encontrou seu espaço como artista e escritora. Manteve-se ativa mesmo com o lúpus, doença autoimune que a obrigou a fazer hemodiálise por mais de 25 anos.
Carreira e impacto cultural
Além da atuação artística, Dona Jacira escreveu a autobiografia “Café”, lançada em 2019 pela editora LiteraRUA. A obra, considerada um marco na literatura periférica, narra episódios de violência doméstica, superação, pobreza e resistência. Em suas palavras, tratava-se de um exercício de cura e de retomada da própria história.
Entre 2021 e 2023, também foi colunista do portal UOL, onde compartilhou reflexões sobre a vida e os desafios da mulher negra na sociedade brasileira.
Relação com os filhos e conflito familiar
Em abril deste ano, após o rompimento entre Emicida e Fióti na gestão da empresa Laboratório Fantasma, Jacira se posicionou em defesa de Fióti: “As hienas nos rondam, querem nossa queda. Mas não conseguirão. Fióti, sua dor é nossa dor. […] a maldição lançada em forma de calúnia deve ser retirada. Pela boca que a lançou. Antes que seja tarde”.
No entanto, em declaração posterior ao site Mundo Negro, ela ponderou que não poderia escolher um lado: “Não me permito escolher um lado”.
Homenagens e legado
Em 2016, Emicida lançou a música “Mãe” em tributo à Dona Jacira. A canção, que acumula mais de 19 milhões de visualizações no YouTube, conta com a participação dela no clipe e exalta a relação de afeto entre mãe e filho. Nos versos, o rapper canta:
“Nossas mãos ainda encaixam certo
Peço um anjo que me acompanhe
Em tudo eu via a voz de minha mãe
Em tudo eu via nós”.
Reconhecimento póstumo
A família finalizou a nota com um agradecimento pelo carinho recebido: “Esse legado será levado adiante por sua família e todas as pessoas que tiveram suas vidas impactadas e transformadas por sua presença de cuidado, amor, luz e fé neste plano. A família agradece por todo amor e carinho e pede que respeitem a sua privacidade nesse momento tão difícil”.