A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) iniciou oficialmente, na segunda-feira (11 de agosto), os trabalhos para a criação de um regulamento nacional de fair play financeiro. A reunião, realizada em um hotel no Rio de Janeiro, contou com a presença de representantes de 34 clubes das Séries A e B, além de 10 federações estaduais. O encontro marcou a abertura do Grupo de Trabalho (GT) que irá elaborar o modelo de controle financeiro a ser apresentado no CBF Summit, previsto para ocorrer em 26 de novembro.
A iniciativa visa estabelecer um Sistema de Sustentabilidade Financeira (SSF) que possa transformar o ambiente de gestão do futebol brasileiro. De acordo com a CBF, o objetivo central é combater práticas como o chamado “doping financeiro” e reduzir o endividamento dos clubes, criando um ecossistema equilibrado e transparente. A entidade estipulou um prazo de 90 dias para apresentar o projeto, que deverá ser implementado de forma progressiva a partir de 2026.
Durante o encontro, o presidente da CBF, Samir Xaud, ressaltou a importância do momento: “É um dos objetivos que colocamos no nosso compromisso de campanha. Queremos criar um sistema sustentável no Brasil, evitar o doping financeiro, reduzir dívidas. Hoje é o pontapé para transformarmos o futebol brasileiro”.
Sob a presidência de Ricardo Gluck Paul, o grupo contará com a colaboração ativa de dirigentes e especialistas. Gluck Paul destacou que a adesão ao GT representa um marco inédito de diálogo amplo: “A CBF se apresenta com um compromisso com o diálogo amplo e inédito no sentido de colocar federações e clubes, e os outros entes da discussão numa mesma mesa de trabalho”.
No campo das propostas práticas, a sugestão do CEO do Fortaleza, Marcelo Paz, gerou repercussão. Ele defendeu a proibição de contratações por clubes inadimplentes no mercado nacional: “O clube que contrata e não paga precisa ser impedido de contratar, com medidas imediatas, como já ocorre na FIFA. No Brasil, a CNRD demora demais e muitas dívidas antigas são parceladas sem juros”.
Também participaram ativamente do debate clubes como Santos, Internacional e Juventude. Marcelo Teixeira, presidente do Santos, alertou para a necessidade de critérios justos: “Não podemos criar critérios injustos. Precisamos de todos fortes dentro de cada realidade”. Já Giovane Zanardo, CEO do Internacional, defendeu avanços legais e padronização contábil: “Defendemos que o processo seja acompanhado por avanços na legislação, pela padronização das demonstrações financeiras e por um período de transição adequado”.
O presidente do Juventude, Fábio Pizzamiglio, afirmou que as práticas defendidas pelo fair play já são rotina no clube gaúcho: “Mantemos uma gestão rigorosa, pagando em dia funcionários, atletas, fornecedores e terceiros. São medidas fundamentais que já adotamos no Juventude há anos”.
Ainda durante o evento, Sefton Perry, representante da UEFA, destacou a importância de um modelo adaptado à realidade brasileira, alertando para erros cometidos em experiências europeias e defendendo persistência e estrutura na implantação do projeto.