O escritor baiano Itamar Vieira Jr. utilizou as redes sociais, na segunda-feira (18), para prestar apoio à colega Lilia Guerra, após ela tornar público um episódio ocorrido durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2025.
Dias após sua participação no evento, a escritora paulista recebeu uma mensagem da organização da Flip informando que a pousada onde se hospedou alegava que ela teria levado um lençol e uma manta do local.
Diante da situação, Itamar escreveu: “O racismo não é um problema nosso. Não há o que lamentar, a não ser o desperdício de tempo que o abalo das acusações nos toma”.
Em seguida, lamentou a dor imposta à colega e ressaltou a importância da denúncia: “Só podemos mudar as coisas denunciando, como você bem fez, e deixando que os que operam o dispositivo da racialidade reconheçam a aberração de suas posições”.
Relato da escritora sobre o episódio
Lilia Guerra contou que, dez dias após retornar a São Paulo, recebeu uma mensagem da equipe da Flip relatando a suposta reclamação da pousada Garden Hotel Boutique Paraty.
A escritora, autora de O Céu para os Bastardos, negou veementemente qualquer envolvimento com o desaparecimento dos itens. Ela afirmou ter ficado “atônita e incrédula” ao saber da acusação, que classificou como reflexo de racismo estrutural.
“Isso acabou comigo. Eu não conseguia acreditar que estavam cogitando que eu pudesse ter furtado. Pedi, pelo amor de Deus, um cobertor porque não havia nenhum disponível e estava frio. Como eu poderia levar algo que nem caberia na minha mala?”, declarou.
Resposta da pousada e da Flip
Procurada, a pousada Garden Hotel negou ter feito uma acusação formal e afirmou que, devido à rotatividade de hóspedes durante a Flip, comunicou à organização do evento sobre itens faltantes com o intuito de verificar se teriam sido realocados por engano.
A administração do hotel lamentou o tom da comunicação que chegou até a autora, reconhecendo que pode ter soado acusatório.
A Flip, por sua vez, emitiu uma nota de pesar pelo episódio e afirmou que “reforça a responsabilidade e compromisso, posicionando-se de forma firme e solidária ao lado de Lilia Guerra, assegurando todo o acolhimento à autora”.
Impacto emocional e reflexões
A escritora, que também é profissional de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), ressaltou que sua ida ao evento foi motivada pelo trabalho e não por lazer. Segundo ela, episódios como esse evidenciam a exclusão ainda presente em espaços culturais.
“Nos meus livros, esse tipo de situação aparece o tempo todo. Achei que não seria leal silenciar sobre o que aconteceu comigo. Escrever é o meu ofício, e eu precisava me posicionar”, afirmou.
Histórico e trajetória literária
Lilia Guerra é moradora de Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo. Em 2023, venceu o Prêmio Carolina Maria de Jesus e, em 2024, seu romance O Céu para os Bastardos foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura.
Na Flip deste ano, ela participou de uma mesa com a escritora chilena Alia Trabucco Zerán sobre a herança escravocrata na América Latina.
Além da atuação literária, Lilia promove ações de incentivo à leitura em periferias paulistanas. Sua trajetória e engajamento foram destacados por Itamar Vieira Jr., que concluiu seu apoio dizendo: “Você é imensa, Lilia, e sua obra revela o nosso país fraturado, dividido, dissimulado”.