Atualmente no ar em duas novelas, Alexandre Nero interpreta o empresário Marco Aurélio no remake de Vale Tudo. Aos 55 anos, o ator tem despertado atenção pelo modo como construiu a personalidade controversa de seu personagem, papel que, segundo ele próprio, ultrapassa as fronteiras do arquétipo do vilão tradicional.
Em entrevista, Nero explicou que o personagem reúne traços ambíguos e é descrito por ele como “ambicioso, autoritário, cafajeste, sem filtro, sem noção, machista e grosseiro”.
Contudo, essas não são as únicas características que definem Marco Aurélio. “Ele é carismático, sensível e sedutor”, declarou o ator, apontando que essas facetas mais sutis foram surgindo com o desenrolar da trama, o que acabou por transformar o personagem em alguém difícil de odiar.
Para ele, o fascínio exercido por figuras de moral questionável não é algo incomum. “Os picaretas são extremamente sedutores. Quem vai dar dinheiro para um cara que não é sedutor, né? Políticos são supersedutores”, refletiu.
A defesa de um anti-herói
De acordo com Nero, seu trabalho como ator consiste em defender o personagem. “O juiz é o público, e eu sou o advogado. A minha defesa é fazer com que as pessoas gostem desse cara. Se quiserem que o odeiem, é com a Manuela”, disse ele, fazendo referência à autora da novela.
Ainda segundo o ator, a escolha da escritora em suavizar a crueldade do personagem permitiu a criação de uma figura contraditória, que, embora pratique atitudes condenáveis — como maltratar funcionários e desviar dinheiro da empresa —, demonstra cuidado com a namorada e afeto pela sobrinha.
Nero também rejeita a classificação do personagem como vilão. “A dramaturgia brasileira já passou essa fase infantojuvenil, sabe? Essa coisa de vilão ou mocinho. O que estamos querendo mostrar são as humanidades, as pessoas normais que têm seus maus lados e seus bons lados”, afirmou, defendendo que o foco da novela está na complexidade humana.
Comparações e releituras
Ao comparar a versão atual de Marco Aurélio com a original de 1988, vivida por Reginaldo Faria, o ator ressaltou as transformações sociais que influenciaram a construção do personagem.
“Era isso que se esperava, né? O mundo mudou e as relações pessoais ficaram mais duras. Só que a Manuela resolveu não fazê-lo tão terrível”, analisou. Dessa forma, Nero defende que a nova abordagem confere camadas que tornam a trama mais instigante e contemporânea.
Em paralelo à exibição de Vale Tudo, o artista também pode ser visto em Guerreiros do Sol, novela exibida pelo Globoplay Novelas desde quinta-feira (11), e inspirada nas histórias de Lampião e Maria Bonita. No folhetim, Nero interpreta Miguel Ignácio, líder de um bando de cangaceiros.
“Ele é um cara bom que mata gente. Ele é bom ou ruim?”, questiona, reforçando mais uma vez a dualidade de seus papéis.
Uma atuação pautada pela complexidade
Alexandre Nero acredita que a atuação deve priorizar a compreensão das motivações e contradições de cada personagem. Em sua avaliação, Marco Aurélio é um exemplo dessa abordagem, ao apresentar múltiplas camadas psicológicas. Ao mesmo tempo em que age de forma reprovável, o personagem também é capaz de demonstrar sentimentos genuínos e afetividade.
“Ele se dá a chance de aprender e mudar”, explicou o ator, salientando que essa possibilidade de evolução humana é um dos pontos mais importantes da dramaturgia moderna.
Para Nero, interpretar figuras ambíguas é não apenas um desafio artístico, mas também uma forma de provocar reflexões no público sobre moralidade, empatia e julgamento.


