Matheus Soliman, conhecido no universo sertanejo, sempre demonstrou fascínio por aviões. Desde a infância, frequentava o aeroporto de Primavera do Leste, em Mato Grosso, apenas para observar pousos e decolagens. Contudo, essa admiração pela aviação se transformou em um pesadelo em 2020, quando aceitou uma missão de alto risco: transportar uma aeronave que estava inativa há dois anos até uma fazenda em Rondônia.
“Eu fui porque a gente estava passando perrengue. Na época, eu tinha minha mulher grávida de oito meses, da minha filha”, relatou o artista, explicando que realizou a viagem ao lado de um amigo.
A queda e os dias de sobrevivência
O plano, no entanto, foi interrompido de forma trágica. O motor esquerdo da aeronave apresentou falha durante o voo. “Tentei reacender, mas tivemos a pane, perdemos altitude e caímos”, contou. O avião caiu em plena floresta amazônica. A primeira informação sobre o acidente chegou ao pai do cantor, o caminhoneiro Erlon Francisco da Silva.
Segundo ele, “disseram que o avião caiu e que ninguém sobreviveu. Foram os 24 dias mais longos da nossa vida”.
Matheus e seu companheiro sobreviveram à queda, mas enfrentaram quase um mês em condições extremas. Sem comida, com sede constante e expostos a ameaças naturais, caminharam seguindo o curso de um rio.
“Passamos por cobras, jacarés, ariranhas e até uma onça, o susto foi grande”, descreveu o cantor. Em um momento crítico, sem água há três dias, o desespero se instalou: “Achei que eu ia morrer”.
Fé e milagres durante o calvário
Devoto católico, Matheus associou sua sobrevivência a episódios que considera milagrosos. “Eu olhava para aquilo e falava: ‘A senhora vai deixar eu morrer bem no dia da senhora?’”. A chuva veio justamente em 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida, oferecendo água potável após dias de seca.
O segundo episódio marcante ocorreu no dia seguinte: “Sonhei que minha filha tinha nascido. Quando acordei, decidimos passar por cima de um tronco. Do outro lado, encontramos uma estrada.” A coincidência foi ainda mais impactante, pois sua filha Lívia, de fato, nasceu em 24 de outubro.
Resgate e recuperação
Após quatro dias adicionais de caminhada, os sobreviventes foram encontrados. Matheus foi internado com cerca de 30 quilos a menos e múltiplas feridas pelo corpo. O trauma, entretanto, ultrapassava o físico. “A recuperação mental foi ainda mais difícil. Eu não conseguia sair de casa, nem falar”, revelou.
A trajetória de Matheus Soliman, marcada por coragem, fé e resistência, revelou não apenas a fragilidade da vida, mas também a força inesperada que emerge nos momentos mais sombrios.