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Perda de protagonismo incomoda europeus no Mundial de Clubes

O presidente da La Liga, Javier Tebas, tornou-se o rosto mais emblemático da insatisfação europeia com o novo formato do Mundial de Clubes. Em declarações enfáticas, ele classificou o torneio como “completamente absurdo” e defendeu sua extinção imediata. O tom, aliás, tem endurecido a cada partida.

“A Fifa pode repensar o Mundial eliminando-o. Meu objetivo é garantir que não haja mais esse Mundial de Clubes. Isso está muito claro para mim”, afirmou Tebas durante evento que comemorava o Decreto Real da liga espanhola .

A principal crítica do dirigente espanhol recai sobre o impacto da competição no já apertado calendário do futebol europeu. Conforme ele argumenta, não há datas disponíveis nem necessidade para uma disputa adicional. Tebas, inclusive, minimizou a importância técnica do torneio:

“Vi um pouco do jogo entre Chelsea e LAFC, e pareceu um amistoso de verão. Não vi nenhuma intensidade”.

Queda de rendimento e perda de hegemonia

Aliás, a insatisfação europeia pode estar relacionada a mais do que apenas o calendário. Em um intervalo de apenas 24 horas, três equipes do continente foram derrotadas no Mundial. O Inter Miami venceu o Porto, o Botafogo superou o Paris Saint-Germain e o Flamengo virou sobre o Chelsea.

Esse número de derrotas iguala a quantidade de vezes que clubes europeus foram batidos entre 2005 e 2024, segundo levantamento da ESPN.

A frequência de reveses inesperados evidencia um cenário diferente do que se acostumou a ver nas edições anteriores. Até então, os representantes da Europa dominavam a competição quase que por completo, acumulando vitórias e títulos com ampla superioridade técnica.

Discurso incompatível com os dados

De forma surpreendente, as reclamações sobre a carga de jogos não se sustentam diante dos números recentes. Dados do Sofascore apontam que, entre os clubes participantes, brasileiros lideram em número de partidas nos últimos 12 meses: Flamengo (78), Botafogo (73), Fluminense (72) e Palmeiras (70).

Em contraste, os europeus aparecem com menor volume: Real Madrid (62), Chelsea e Manchester City (57), Bayern de Munique e Juventus (51).

Além da quantidade de jogos, os sul-americanos lidam com desafios adicionais, como longas viagens, campos irregulares e menor estrutura de recuperação. Mesmo assim, as críticas mais duras partem justamente do continente que menos exige de seus clubes em termos de partidas.

Novo modelo e nova narrativa

Anteriormente disputado em dezembro, o Mundial agora acontece em junho, equalizando a condição física entre clubes de diferentes hemisférios. O novo formato, com 32 participantes, amplia a visibilidade internacional e desafia a centralização simbólica do futebol na Europa.

Para agremiações como Al Ahly, Monterrey e Flamengo, a competição oferece vitrine global inédita. Já para parte da elite europeia, representa uma ameaça direta ao controle da narrativa global do futebol.

“É possível que o maior desconforto de Javier Tebas não esteja em mais algumas datas no calendário europeu, mas na constatação de que o futebol pode (e deve) ser mais do que uma liga de elite para os mesmos protagonistas de sempre”, analisou o portal Leo Dias.

Diferença de tratamento entre torneios

Conforme apontado no mesmo artigo, dirigentes europeus não expressam o mesmo nível de resistência em relação à Copa do Mundo de seleções. Mesmo exigindo esforço físico e emocional intenso, o torneio é amplamente aceito no Velho Continente.

Isso levanta questionamentos sobre a real motivação das críticas ao Mundial de Clubes. Afinal, trata-se de um evento onde equipes de fora do eixo europeu ganham protagonismo, visibilidade e, ocasionalmente, vitórias relevantes.