A longa e estratégica parceria entre a OpenAI e a Microsoft, firmada em 2019, atravessa seu momento mais delicado desde o início da colaboração. O vínculo, que até então impulsionou avanços significativos no setor de inteligência artificial, enfrenta um impasse que envolve disputas por controle, lucros e autonomia operacional.
O principal ponto de conflito surge da tentativa da OpenAI em reformular seu modelo jurídico, buscando tornar-se uma corporação de benefício público com fins lucrativos. Essa transição, vista como essencial para atrair novos investimentos e até abrir capital futuramente, depende de aprovação da Microsoft. Sem o aval da gigante de tecnologia, a OpenAI pode perder até US$ 20 bilhões em aportes até o final de 2025, comprometendo seu planejamento de expansão.
Contudo, o desconforto não se restringe apenas à estrutura societária. A Microsoft, que já investiu mais de US$ 13 bilhões na OpenAI e detém até 49% dos lucros em determinados modelos de negócio, reivindica uma fatia mais significativa da nova estrutura e o direito de manter sua participação nas receitas geradas, especialmente em produtos como Bing, Azure e GitHub Copilot.
Aliás, o avanço da OpenAI em novas frentes de negócio, como a aquisição da startup Windsurf — especializada em IA para codificação —, intensificou as tensões. A startup representa uma concorrência direta ao GitHub Copilot, e a intenção da OpenAI em limitar o acesso da Microsoft à propriedade intelectual da nova empresa acirrou os ânimos.
Do ponto de vista institucional, fontes revelaram que, diante da crescente pressão, a OpenAI chegou a discutir a possibilidade de abrir uma ação antitruste contra a Microsoft. A medida incluiria solicitação de investigação por órgãos reguladores e uma possível campanha pública, o que, segundo analistas, abalaria definitivamente a relação entre as empresas.
A crise se agravou após a breve demissão de Sam Altman, em 2023, episódio que abalou a confiança da Microsoft. Desde então, a empresa de Redmond passou a diversificar suas apostas, investindo em modelos próprios, como o Phi, e integrando soluções de concorrentes como Grok (da xAI) e R1 (da DeepSeek) à sua infraestrutura Azure. Enquanto isso, a OpenAI passou a comercializar diretamente suas soluções com empresas, competindo com o Copilot do pacote Microsoft 365.
Por ora, o contrato entre as partes permanece válido até 2030. No entanto, conforme acordado, caso a OpenAI atinja o desenvolvimento de uma AGI (inteligência artificial geral), cláusulas poderão ser ativadas para revisão ou rescisão dos termos.


