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Uber está cobrando mais dos clientes e pagando menos aos motoristas

Instituições acadêmicas de prestígio apontam uso de algoritmos para elevar tarifas cobradas dos usuários enquanto reduzem valores pagos aos profissionais.

A empresa de transporte por aplicativo enfrenta nova onda de críticas após duas universidades renomadas divulgarem estudos que revelam estratégias controversas de precificação. Assim, tanto a Universidade de Oxford quanto a Columbia Business School apresentaram evidências de que a plataforma utiliza algoritmos sofisticados para maximizar seus lucros.

O primeiro levantamento foi conduzido pelo Departamento de Ciência da Computação de Oxford, que examinou dados de 258 motoristas do Reino Unido. Posteriormente, pesquisadores da Columbia Business School nos Estados Unidos analisaram mais de 2 milhões de solicitações e dezenas de milhares de viagens realizadas por um único condutor. Entretanto, ambos os estudos chegaram a conclusões similares sobre as práticas da empresa.

Algoritmos elevam comissões e reduzem ganhos

Os pesquisadores britânicos identificaram que a implementação do sistema de “preço dinâmico” em 2023 coincidiu com redução significativa nos ganhos dos motoristas. Conforme o levantamento, a renda horária dos profissionais caiu de mais de 22 euros para pouco mais de 19 euros, considerando valores ajustados pela inflação e antes dos custos operacionais.

“Quanto maior o valor da viagem, maior é a fatia que a Uber retém”, explicou Reuben Binns, professor associado e autor principal da pesquisa de Oxford. Sobretudo, ele destacou que conforme os clientes pagam mais, os motoristas efetivamente ganham menos por minuto trabalhado.

A pesquisa americana revelou dados ainda mais alarmantes sobre a evolução das comissões. Enquanto nos Estados Unidos o mecanismo de “precificação antecipada” permitiu à empresa elevar sua taxa de retenção de cerca de 32% para mais de 42% até o final de 2024, no Reino Unido esse índice chega a mais de 50% em algumas corridas. Portanto, a plataforma conseguiu praticamente dobrar sua participação nos valores arrecadados.

Estratégia de discriminação algorítmica

O relatório da Columbia identificou o que classifica como “discriminação algorítmica de preços”. Por conseguinte, a empresa implementou uma prática sistemática de aumentar tarifas para passageiros enquanto reduz os ganhos dos motoristas de forma opaca. Além disso, essa estratégia se tornou mais sofisticada com o tempo.

“Estou impressionado com o que a Uber conseguiu”, disse o professor Len Sherman, coautor do estudo da Columbia. “Eles descobriram como identificar quem está disposto a pagar mais e quem aceitará menos — e usaram isso para maximizar lucros”, completou o acadêmico.

Anteriormente, a empresa alegava manter uma taxa fixa de 25% sobre os ganhos dos motoristas. Atualmente, contudo, os valores são variáveis e a transparência foi reduzida. Conforme demonstram os estudos, a média da comissão subiu para 29%, enquanto em alguns casos específicos ultrapassa 50% do valor total da corrida.

Empresa contesta descobertas e defende transparência

A Uber rejeitou as conclusões apresentadas pelos pesquisadores, alegando que seus algoritmos são projetados para garantir transparência e equilíbrio entre oferta e demanda. Ademais, a empresa afirma que os preços não são personalizados com base em características individuais dos usuários.

Em comunicado oficial, a plataforma ressaltou que todos os motoristas recebem ao menos o salário mínimo nacional. Igualmente, a empresa declarou que sugestões de manipulação injusta “são falsas e infundadas”. Por outro lado, os resultados das pesquisas serão apresentados oficialmente na ACM Conference on Fairness, Accountability, and Transparency (FAccT 2025), evento internacional que discute ética em sistemas baseados em algoritmos.

As descobertas reacendem críticas à empresa, que já enfrentou escândalos como a decisão da Suprema Corte do Reino Unido garantindo direitos trabalhistas a motoristas. Semelhantemente, a revelação dos chamados Uber Files em 2022 expôs práticas antiéticas da empresa em vários países.