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Artista com nanismo quebra silêncio sobre participação em festa de Lamine Yamal, do Barcelona

A situação expôs um debate mais amplo sobre os limites entre entretenimento e discriminação

A comemoração pelos 18 anos de Lamine Yamal, atacante do Barcelona, tornou-se alvo de controvérsia após a contratação de artistas com nanismo para participarem do evento realizado no sábado (12). A Associação de Pessoas com Acondroplasia e Outras Displasias Esqueléticas com Nanismo da Espanha (ADEE) formalizou denúncia às autoridades espanholas.

A ADEE defende que a contratação de pessoas com deficiência como parte de atrações festivas infringe a Lei Geral dos Direitos da Pessoa com Deficiência. A entidade afirmou que os fatos “ferem os valores éticos fundamentais de uma sociedade igualitária” e declarou que tomará “ações legais e sociais para salvaguardar a dignidade destas pessoas”.

O Ministério dos Direitos Sociais da Espanha solicitou que o Ministério Público, o Provedor de Justiça e o Gabinete de Crimes de Ódio avaliem se houve infração à legislação vigente. Embora a norma não preveja sanções criminais, o caso pode gerar multa de até 1 milhão de euros (cerca de R$ 6,5 milhões), conforme estabelecido por regulamentações espanholas.

Defesa do artista e críticas à associação

Um dos quatro profissionais contratados para o evento rompeu o silêncio e falou publicamente à rádio catalã RAC1. O artista, que preferiu não se identificar, negou qualquer forma de abuso, desrespeito ou exploração durante a festa organizada nos arredores de Barcelona. Segundo ele, os participantes atuaram de maneira consensual e receberam pagamento justo.

“Ninguém nos faltou ao respeito, deixem a gente trabalhar em paz. Somos pessoas normais que fazem o que querem fazer de forma absolutamente legal”.

O contratado ainda criticou o posicionamento da ADEE, apontando omissão da entidade em oferecer alternativas de qualificação e emprego. Para ele, a atuação como animador é legítima e deveria ser respeitada. “Trabalhamos como animadores. Por que não podemos fazer isso por causa da nossa condição física?” — questionou.

Ele também explicou que o grupo realizou atividades diversas, como dança, mágica e serviço de bebidas, dentro dos limites previamente definidos. “Sabemos qual é o nosso limite e nunca o ultrapassamos: não somos macacos de feira. Dançamos, distribuímos bebidas, fazemos magia… há muitos tipos de espetáculos”.

Estrutura do evento e repercussões externas

A estética da festa de Yamal seguiu uma temática inspirada na cultura gângster, com elementos cenográficos como notas falsas, correntes douradas, armas cenográficas e roupas estilizadas. Estiveram presentes nomes da música como Bizarrap, Ozuna, Quevedo e Bad Gyal, além de companheiros do elenco catalão.

Apesar do contrato de confidencialidade que impede detalhes mais específicos, o artista afirmou que a crítica e a repercussão surgiram apenas devido à projeção do aniversariante. “Éramos apenas mais umas pessoas na festa. Todos se divertiram muito. Todo esse alarido aconteceu só porque era a festa de Lamine Yamal”.

Outras denúncias e possíveis consequências

Além do questionamento sobre a presença dos artistas com nanismo, a modelo espanhola Claudia Calvo recusou o convite para o evento após, segundo ela, os organizadores exigirem características físicas específicas de algumas mulheres, como formato corporal, cor dos cabelos e tamanho dos seios. Yamal não se pronunciou sobre nenhuma das acusações até o momento.

A situação expôs um debate mais amplo sobre os limites entre entretenimento e discriminação, com especialistas e entidades divergindo sobre o papel de pessoas com deficiência em eventos festivos. Enquanto a ADEE insiste na ilegalidade da prática, os artistas envolvidos defendem o direito ao trabalho digno e voluntário.