Mais de duas décadas após a exibição de Mulheres Apaixonadas, novela da TV Globo lançada em 2003, Dan Stulbach segue lembrado por sua atuação como Marcos, personagem que violentava fisicamente a esposa Raquel, interpretada por Helena Ranaldi.
O papel teve repercussões tão intensas que, à época, a emissora considerou medidas de segurança para proteger o ator. “No final da novela, tinha recorde de cartas de ódio para mim. Eram pilhas. O pessoal da Globo perguntou se não era melhor colocar alguém para me proteger”, relatou.
Ele ainda afirmou que, mesmo após recusar a escolta, a segurança foi instalada em sua porta nos últimos dias da trama.
Rejeição nas ruas e a força da ficção
O clima gerado pelo personagem ultrapassou a tela. Stulbach revelou que, ao andar pelas ruas, era frequentemente alvo de insultos e olhares desconfiados. A rejeição era tamanha que as pessoas chegavam a desviar seu caminho.
Embora a rejeição popular tenha sido uma consequência marcante, o ator destacou que o mais relevante foi o debate provocado pela novela.
“Além da minha felicidade de ter alcançado as pessoas e o sucesso, foi a importância que teve para o país, de a gente ter levantado um assunto e mudado uma lei”, afirmou, em referência à contribuição da obra para o debate que culminaria na criação da Lei Maria da Penha, sancionada em 22 de setembro de 2006.
A simbologia da raquete de tênis e a crítica social
Na ficção, Marcos utilizava uma raquete de tênis como instrumento de agressão, o que acabou se tornando um símbolo do abuso retratado. Esse elemento dramatúrgico provocou indignação e deu visibilidade ao tema da violência doméstica, até então menos debatido publicamente.
A abordagem do enredo e a atuação intensa de Stulbach ajudaram a romper o silêncio social sobre o tema, reforçando a função da teledramaturgia como agente de transformação.
Reconhecimento entre colegas e amizade fora das telas
Apesar da dureza do papel, o vínculo construído entre os atores no ambiente de gravação perdurou. Durante o programa É de Casa, exibido no sábado (14), Helena Ranaldi enviou um depoimento ao colega.
“Você continua muito presente na minha vida (…) Foi um grande prazer ter trabalhado com você, admiro muito seu trabalho. E fico aqui na torcida para, quem sabe, algum dia, a gente repetir essa parceria”, declarou a atriz, reforçando a cumplicidade artística estabelecida nos bastidores.
Repercussão social e legado na dramaturgia
Dan Stulbach reconhece que a obra transcendeu o entretenimento. “Levantado uma situação que é tristemente importante até hoje, já que os números de violência doméstica continuam altos”, disse. O legado de Mulheres Apaixonadas, conforme pontuado pelo artista, está em seu papel social e legislativo, marcando um ponto de virada para a representação da violência contra a mulher na televisão brasileira.