O influenciador Hytalo Santos, natural de Cajazeiras, na Paraíba, está sendo investigado pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) desde 2024 por denúncias de maus-tratos e exploração de adolescentes em seus conteúdos digitais.
As denúncias iniciais foram feitas por meio do Disque 100 e tratam da chamada “adultização” de menores — conceito que, embora não previsto de forma específica em lei, é combatido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que proíbe qualquer forma de exploração, negligência ou violência contra crianças e adolescentes.
Diversos relatos apontam que os jovens que conviviam com Hytalo, os quais ele chamava de “filhos” ou “Turma do Hytalo”, eram submetidos a uma rotina rigorosa e, em certos momentos, hostil. Os adolescentes teriam acesso restrito a alimentos, além de supostamente serem punidos com ameaças de expulsão da casa ou suspensão da participação nos vídeos, quando se recusavam a gravar ou cometiam pequenos erros.
Além disso, há informações sobre festas promovidas pelo influenciador com a presença de álcool e, eventualmente, drogas. Nessas ocasiões, adolescentes estariam expostos a situações inadequadas, contrariando os princípios de proteção à infância e juventude garantidos por lei.
Responsabilidade dos pais também é investigada
O MPPB também apura a conduta dos pais e responsáveis legais pelos menores que participavam dos vídeos. Embora alguns tenham autorizado a presença dos filhos na casa do influenciador, o Ministério Público reforça que o consentimento dos pais não exclui a responsabilidade penal, caso haja configuração de crime, como exploração sexual, pornografia infantil ou maus-tratos.
A conselheira tutelar Socorro Pires, de Cajazeiras, declarou que “os pais desses adolescentes todos autorizam esses jovens a ficar na casa dele”, mas destacou a limitação de atuação do conselho diante do apoio jurídico de Hytalo.Impacto social e consequências jurídicas
A advogada Juliana Nóbrega, especialista em direito digital, afirmou que os conteúdos publicados por Hytalo podem configurar crimes como corrupção de menores, favorecimento da prostituição, produção de pornografia infantil, entre outros. Ela ressaltou ainda que “o consentimento dos pais não afasta a ilicitude de condutas que configurem crimes contra crianças e adolescentes”.
Um inquérito policial também foi instaurado para apurar os fatos em esfera criminal. Caso confirmadas as irregularidades, os envolvidos poderão responder por crimes com penas que podem ultrapassar 20 anos de reclusão.
Acusações públicas e repercussão
A polêmica ganhou maior visibilidade após o youtuber Felca divulgar um vídeo com mais de 26 milhões de visualizações, no qual denuncia explicitamente a exposição de menores nos conteúdos de Hytalo Santos. Ele criticou a forma como a adolescente Kamyla Santos, de 17 anos, é retratada nos vídeos e alertou para os riscos da influência desses conteúdos sobre outros jovens e adultos.
“A Kamylinha entrou no círculo do Hytalo quando ela tinha 12 anos (…). Aos poucos, o Hytalo começou a perceber que quanto mais era mostrado da Kamylinha, em todos os sentidos, mais retornava em números”, afirmou Felca.
Em outro trecho, ele acrescenta:
“Qual a problemática maior aqui (…), a problemática maior é que dentro do público do Hytalo Santos existem adolescentes que assistem pra ver a realidade e são influenciados por ela, existem mães de filhos que assistem por qualquer motivo, mas existe também nesse público homens adultos e (…) esses homens não assistem pelas dinâmicas divertidas”.
Defesa de Hytalo Santos
Em sua defesa, Hytalo afirmou que colabora com o Ministério Público e que as gravações sempre contam com o consentimento das mães dos adolescentes envolvidos. Até o momento, ele não se pronunciou diretamente sobre os relatos de maus-tratos nem comentou as festas ou o suposto uso de drogas nas dependências de sua casa.
