Zeca Pagodinho decidiu transformar parte de seu patrimônio em instrumento de auxílio social ao ceder um terreno de 8 mil metros quadrados no distrito de Xerém, em Duque de Caxias (RJ), para a implantação de uma horta comunitária. A área está localizada próxima à Reserva Biológica do Tinguá e integra o programa Guardiões da Mata, do Instituto Zeca Pagodinho (IZP), que também prevê reflorestamento e banco de sementes.
A iniciativa, batizada de Horta Urbana Xerém I, foi criada com o propósito de enfrentar a insegurança alimentar e gerar renda local. A estruturação do projeto conta com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio de verbas públicas, e de uma emenda parlamentar da deputada federal Benedita da Silva. A execução das atividades é conduzida por agricultores capacitados pelo próprio IZP, em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e a Embrapa.
A princípio, dez famílias serão diretamente beneficiadas com os alimentos produzidos, enquanto outras parcelas da produção serão destinadas a cozinhas solidárias, creches, escolas públicas e alunos do IZP. Parte da colheita também será comercializada por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da Prefeitura de Duque de Caxias.
“Quando chegamos a Xerém, era tudo barro. Tinha bem poucas famílias. Muitas vezes vi as pessoas passando necessidade. Quando estou aqui, não tem isso. Já viu o tamanho das panelas de comida? Para todo mundo que entra aqui, eu pergunto: ‘Já almoçou?’ Pobre, rico, polícia, otário, malandro…”, disse Zeca ao Jornal O Globo.
A horta já recebeu mais de 11 mil mudas de hortaliças, entre elas alface, beterraba, abóbora, rúcula e quiabo. Além disso, mais de 50 espécies de árvores frutíferas foram plantadas, como jabuticaba, tangerina e manga. Conforme estimativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a previsão é que o espaço atinja uma produção de até 40 toneladas de alimentos por ano, o equivalente a 3 a 5 quilos por metro quadrado.
Louiz Carlos da Silva, filho de Zeca e diretor do IZP, destacou que o projeto surgiu com foco cultural, mas ganhou novas frentes. “Queremos desenvolver as pessoas para que, no futuro, possam andar com as próprias pernas e não precisem de doações ou de programas como este”.
A gestão da horta também reforça pilares sustentáveis, conforme pontuou Cynthia Souza, gestora ambiental do instituto: “A sustentabilidade tem quatro pilares: o ambiental, o social, o econômico e o cultural, que muitas vezes é o mais difícil de ser trabalhado. Como o instituto começou com foco no aspecto cultural, conseguimos inserir os outros pilares”.
Com um histórico de atuação comunitária em Xerém, o cantor reforça seu vínculo com a localidade. “Eu gosto é de arroz, feijão e ovo. Ovo de Xerém. Com fome, como de tudo”, disse, ao resumir o espírito que rege tanto sua vida quanto o novo projeto.