A derrota da Seleção Brasileira para o Uruguai, em pleno Maracanã, completou 75 anos nesta quarta-feira (16 de julho). O episódio, conhecido como “Maracanazo”, marcou de forma indelével a história do futebol nacional e ainda ressoa na memória dos torcedores como uma das páginas mais dolorosas do esporte no país.
O contexto da partida final da Copa do Mundo de 1950 indicava amplo favoritismo brasileiro. A Seleção chegou ao último jogo do quadrangular final com uma campanha sólida e invicta. Goleadas sobre Suécia (7 a 1) e Espanha (6 a 1), ambas disputadas no Maracanã, alimentaram o otimismo da torcida, que compareceu em peso ao estádio: mais de 173 mil pagantes testemunharam o confronto decisivo contra os uruguaios.
Enquanto isso, o Uruguai havia empatado com a Espanha por 2 a 2 e vencido a Suécia por 3 a 2, garantindo o segundo lugar na fase final. A Seleção Brasileira, por sua liderança no quadrangular, precisava apenas de um empate para conquistar o título mundial. Mesmo sem ser oficialmente uma final, o jogo carregava o peso de uma decisão e era tratado como tal por imprensa e torcedores.
Empurrado pela torcida e embalado pela campanha anterior, o Brasil abriu o placar com Friaça, aos dois minutos do segundo tempo. Entretanto, o gol de empate de Schiaffino e, posteriormente, o gol da virada de Ghiggia, aos 34 minutos da etapa final, silenciaram o estádio. O Uruguai venceu por 2 a 1 e conquistou o bicampeonato mundial.
A derrota provocou um trauma coletivo. Há relatos de que as autoridades esqueceram-se de entregar imediatamente a Taça Jules Rimet aos uruguaios. O silêncio que tomou conta do estádio foi descrito como sepulcral. Posteriormente, Alcides Ghiggia resumiu o impacto de seu gol ao declarar: “Somente três pessoas conseguiram calar o Maracanã: o Papa, Frank Sinatra e eu”.
Na época com apenas nove anos, Pelé assistiu à dor do pai, Dondinho, diante da derrota. O então garoto prometeu que um dia traria a Copa para o Brasil. A promessa se concretizou, com Pelé sendo protagonista nas conquistas de 1958, 1962 e 1970.
Inegavelmente, o Maracanazo deixou marcas profundas. Décadas depois, em 2014, a goleada por 7 a 1 sofrida contra a Alemanha reacendeu o debate sobre qual teria sido a maior derrota da Seleção. Enquanto a partida de 1950 representou uma frustração em meio à esperança, o revés diante dos alemães simbolizou a falência de um projeto esportivo durante um Mundial disputado em casa.
Ambos os episódios refletem momentos distintos de fragilidade no futebol brasileiro, mas o Maracanazo permanece como um divisor de águas. Afinal, foi ele que moldou a obsessão nacional pelo título mundial e influenciou as gerações seguintes a buscar redenção nos gramados.


