A crise institucional no Corinthians ganhou novos contornos após a tentativa de retomada do poder por parte de Augusto Melo no último sábado (31), ação considerada grave por integrantes do clube. Com isso, o ex-presidente, afastado após aprovação do processo de impeachment no Conselho Deliberativo, pode ser expulso do quadro associativo.
Conforme apurou a coluna do jornalista Samir Carvalho, os conselheiros corinthianos articulam a aplicação do artigo 28 do estatuto social. O dispositivo prevê a possibilidade de expulsão de sócios que pratiquem “ato grave contra a moral social desportiva ou contra dirigente no exercício de seu cargo” ou que “denegram a imagem do clube”.
A possível expulsão ainda deverá passar por trâmites regimentais. Primeiramente, o caso será analisado pelo Conselho de Ética, com direito à defesa por parte de Melo. Em seguida, o Conselho Deliberativo votará a ratificação.
Esse processo pode levar mais de 60 dias, o que significa que o ex-presidente ainda deve participar da Assembleia Geral dos sócios marcada para 9 de agosto, onde será decidido seu afastamento definitivo.
Depósitos suspeitos elevam tensão
Ao mesmo tempo, investigações da Polícia Civil e do COAF adicionaram novos elementos à crise. Um relatório revelado pelos portais “UOL” e “ge” identificou mais de R$ 152 mil depositados em espécie na conta de Augusto Melo entre dezembro de 2023 e abril de 2024.
Os depósitos, realizados em valores inferiores a R$ 2 mil, supostamente tentavam “burlar os mecanismos de controle” e ocultar a identidade dos remetentes.
No total, foram registrados 77 depósitos, com destaque para 16 transações no dia 1º de dezembro de 2023, uma semana após a eleição que levou Melo à presidência. Entre os nomes identificados com transferências via PIX posteriores aos depósitos, aparece Carlos Eduardo Melo Silva, conhecido como Kadu Melo, sobrinho do dirigente e conselheiro do clube.
Defesa e alegações de Augusto Melo
Em nota enviada à imprensa, Augusto Melo negou irregularidades e afirmou que “todas as movimentações são legais, devidamente registradas”. Acrescentou ainda: “Sou dono de comércio e de um estacionamento. Muitas vezes o dinheiro que entra é em espécie e o meu pró-labore e de meus sócios são retirados em dinheiro vivo, para isso, eu preciso que seja depositado em minha conta”.
O dirigente afastado enfatizou que os extratos bancários foram entregues voluntariamente às autoridades, e que todas as informações constam em sua declaração anual de Imposto de Renda.
“Minhas contas e vida são limpas e estou sempre à disposição para esclarecimentos, seja do torcedor, da imprensa ou das autoridades responsáveis por quaisquer investigações”, concluiu.
Repercussão interna e clima no clube
Internamente, a situação tem provocado forte desgaste. Conselheiros e dirigentes consideraram a tentativa de retomada do cargo no sábado como uma afronta à autoridade institucional. A ocupação do Parque São Jorge por Melo e aliados foi interpretada como uma tentativa de ruptura, acirrando o movimento pela sua expulsão definitiva.
O clube, que vive instabilidade administrativa desde o início do ano, enfrenta também dificuldades financeiras, cenário que se agrava com o impacto político da crise atual. A possível retirada de Augusto Melo do quadro de sócios representa um capítulo simbólico, mas de peso, na tentativa de reestruturação e pacificação da diretoria alvinegra.