O Corinthians atravessa uma das fases mais conturbadas de sua história recente, marcada por conflitos internos, crise financeira e tensão com parte da torcida. No centro do turbilhão estão o atacante Memphis Depay e o presidente afastado Augusto Melo, ambos alvos de protestos registrados nesta quarta-feira (23) nos muros da sede social no Parque São Jorge.
O descontentamento da torcida tem se manifestado de maneira crescente. As pichações criticam o rendimento do time e miram diretamente o atacante holandês, envolvido em polêmicas com o ex-jogador Neto. A rivalidade teve início após Memphis lançar uma música que ironizava o comentarista, gerando resposta imediata nos programas de TV. “Depay, de ídolo você não tem nada. Craque Neto 90/91/97 nosso eterno ídolo”, dizia uma das frases registradas nos muros.

Além do atleta, um dos empreendimentos ligados a Augusto Melo, no bairro do Tatuapé, também foi alvo dos protestos. A ação ocorre um dia após o dirigente ter sido formalmente acusado no caso VaideBet, junto a outros ex-integrantes da gestão. O Ministério Público de São Paulo aponta o desvio de verbas por meio de um contrato de patrocínio, com o uso de empresas de fachada para dissimular repasses, prática que, segundo a denúncia, beneficiou financeiramente o grupo envolvido.
A promotoria pede o bloqueio de bens dos acusados e requer o ressarcimento de R$ 40 milhões ao clube. Segundo os autos, o esquema teria sido montado com o propósito de saldar dívidas de campanha e gerar lucro pessoal às custas do Corinthians. Até o momento, R$ 1,4 milhão já foi retirado dos cofres do clube por meio de uma comissão simulada.
No campo, a situação de Memphis Depay é igualmente delicada. Após ser substituído no clássico contra o São Paulo, no sábado (19), o atacante deixou o estádio antes mesmo do término da partida, não retornando ao banco de reservas. Conforme relatos, ele só se reuniu com a delegação no vestiário após o apito final. Anteriormente, já havia ameaçado faltar a treinamentos por atraso salarial, sendo um dos atletas com pendências financeiras acumuladas, como a premiação de R$ 4,7 milhões pelo título paulista.
Enquanto isso, o cenário institucional do clube preocupa especialistas. O jornalista Fábio Sormani, em declaração recente, defendeu a transformação do Corinthians em SAF como única saída viável para evitar colapso financeiro. “É por isso que eu falo que tem que virar SAF para tirar das mãos destes incompetentes… Caso contrário, essa dívida de 2 bilhões vai para 5 bi e vai abrir falência”, afirmou o comentarista.
Ainda que a proposta da SAF ganhe defensores públicos, como Sormani, o tema segue fora da pauta interna do clube. O Conselho Deliberativo, até agora, não demonstra sinais de abertura para discutir a mudança de modelo administrativo. Enquanto isso, a crise segue latente dentro e fora de campo.