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Veja como o Corinthians se posicionou sobre o Fair Play financeiro

CBF inicia debate sobre regras para controlar gastos e dívidas, com críticas, propostas e atenção da imprensa internacional ao cenário econômico dos clubes brasileiros.

A CBF promoveu na segunda-feira (11 de agosto) o primeiro encontro de seu grupo de trabalho para discutir a criação de um sistema de fair play financeiro no Brasil. A reunião contou com participação de dirigentes de diversos clubes e foi dividida em duas partes: uma aberta à imprensa, com palestra de Sefton Perry, chefe do Centro de Análise e Inteligência da UEFA, e outra fechada, reservada a manifestações internas.

Nesse espaço restrito, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, reforçou publicamente a necessidade de um mecanismo que assegure equilíbrio entre as equipes que cumprem suas obrigações e as que acumulam dívidas. A fala foi interpretada como uma crítica velada ao Corinthians, que a havia eliminado da Copa do Brasil dias antes.

Representando o clube paulista, Rozallah Santoro, colaborador da diretoria interina nas áreas de negócios e finanças, admitiu desconforto com a atual incapacidade de quitar todas as pendências do Corinthians. Segundo ele, a situação obriga o clube a selecionar quais contas pagar, algo que pretende mudar. No dia seguinte, a equipe sofreu um transfer ban devido a dívida com o Santos Laguna pela contratação de Félix Torres.

O debate também incluiu questões levantadas por outros clubes. O CEO do Fortaleza, Marcelo Paz, defendeu que as regras imponham limites às comissões pagas a empresários, para evitar que contratações fiquem reféns de exigências elevadas. Além disso, sugeriu norma para que técnicos desligados deixem de receber do clube anterior caso assumam nova função, reduzindo gastos com múltiplos treinadores.

Outra preocupação recorrente foi sobre a recuperação judicial, já que o parcelamento de débitos, incluindo transferências e obrigações trabalhistas, pode neutralizar punições previstas pelo fair play. Alguns dirigentes consideram que, nessas condições, atrasos de pagamento não gerariam consequências efetivas.

Enquanto o debate ocorria no Brasil, a imprensa internacional acompanhava o movimento. O jornal espanhol As classificou o momento como de “transição a nível econômico”, apontando forte endividamento e disparidades nos investimentos entre clubes. A publicação citou Palmeiras, Flamengo e Botafogo como exemplos de altos gastos e destacou que seis times da Série A têm valor de mercado inferior ao do Almería, da segunda divisão espanhola.

O veículo também chamou atenção para contratações de peso recentes, como Neymar (Santos), Marcelo e Thiago Silva (Fluminense), Vitor Roque (Palmeiras), Memphis Depay (Corinthians) e Saúl e Samuel Lino (Flamengo). “Grandes contratos em termos salariais que, no caso do holandês (Memphis Depay no Corinthians), ocupam aproximadamente 15% da folha salarial do elenco”.

Assim, o encontro da CBF representou não apenas um passo inicial rumo a um regulamento nacional, mas também expôs divergências internas e o olhar atento de observadores estrangeiros sobre a realidade financeira do futebol brasileiro.