Revelado pelas categorias de base do Cruzeiro, o meia Diego Andradina traçou um caminho inusitado até alcançar o futebol europeu. Atualmente no Livyi Bereh, clube da Primeira Divisão da Ucrânia, o jovem de 21 anos superou obstáculos fora das quatro linhas antes de voltar a atuar profissionalmente.
Durante a pandemia, com a paralisação das competições, Andradina viu sua carreira ser interrompida abruptamente. Sem clube e sem perspectivas imediatas, precisou recorrer a trabalhos informais e chegou a atuar como servente de pedreiro para garantir o sustento. Foi um momento delicado que quase o afastou definitivamente do futebol.
Aliás, o retorno ao esporte começou no interior paulista. O meia defendeu o Taquaritinga em duas passagens, entre 2023 e 2024, e também vestiu a camisa do Comercial na Série A2 do Campeonato Paulista. Posteriormente, já na volta ao Taquaritinga, encerrou a temporada como artilheiro do clube na Copa Paulista. Esse desempenho, de fato, atraiu olhares do exterior e culminou com sua ida à Europa no início de 2025.
Apesar do cenário adverso na Ucrânia, país que enfrenta há três anos um conflito armado com a Rússia, o brasileiro não hesitou em aceitar o desafio. Mesmo com as dificuldades logísticas e emocionais impostas pela guerra, Diego tem se mantido firme em seu propósito de seguir atuando profissionalmente.
“É uma realidade muito diferente da que eu vivia no Brasil. Já precisei dormir três dias em um bunker por conta dos alertas de ataque. É uma situação difícil, mas o povo aqui mostra uma força admirável para seguir em frente. Vim com o sonho de mostrar meu futebol e tento aproveitar da melhor forma, sempre com cuidado e atenção às recomendações”, revelou o jogador.
Na Ucrânia, Andradina participou de dez partidas oficiais pelo Livyi Bereh em sua temporada de estreia. Embora ainda não tenha marcado gols, contribuiu com duas assistências, evidenciando sua função de articulação no meio-campo. A adaptação, no entanto, vai além dos gramados.
Fora de campo, vive em um hotel disponibilizado pelo clube e tem se dedicado aos estudos do inglês, essencial para a comunicação com a comissão técnica e companheiros. Também enfrenta desafios como o frio rigoroso, as diferenças culturais e o constante clima de insegurança. Ainda assim, mantém o foco e encontra inspiração em trajetórias como a de Matheus Pereira, atualmente destaque no elenco do Cruzeiro.
Sobre o início de sua carreira, Diego relembra com gratidão o tempo em que atuou na base celeste, dividindo o campo com nomes como Vitor Roque: “Ter defendido as cores do Cruzeiro foi uma das maiores experiências que tive na minha carreira até hoje. Tinha o sonho de chegar à categoria profissional, mas creio que tudo tem um propósito. Deus tinha outros planos para a minha trajetória e, graças a Ele e a muito trabalho, pude me profissionalizar no Taquaritinga e, depois, ter essa chance no futebol europeu. De qualquer forma, sou grato ao Cruzeiro por ter feito parte da minha formação e da pessoa que sou hoje”.
Em meio a um cenário hostil, a história de Andradina simboliza persistência e renascimento, reafirmando que o futebol, por vezes, é também uma ferramenta de reconstrução pessoal.