Mesmo em meio a intensas críticas internas e manifestações públicas de insatisfação, o presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o BAP, negou qualquer intenção de promover uma mudança no comando do departamento de futebol. A declaração foi feita de forma categórica:
“Jamais pensei em trocar o comando do futebol do Flamengo”, noticiou o ‘Bolavip’. O dirigente ainda afirmou que não se trata de uma crise de confiança, mas sim de uma necessidade de alinhar diretrizes com o atual diretor técnico.
Pressão crescente e episódios de atrito
A permanência de José Boto se dá apesar de uma sequência de episódios que ampliaram a tensão na Gávea. A contratação de Mikey Johnston, que estava alinhada com o departamento de scout comandado pelo português, foi cancelada após veto do próprio BAP, influenciado pela repercussão negativa entre conselheiros e torcedores. A desistência ocorreu mesmo após o clube ter concordado em pagar 5 milhões de libras ao West Bromwich.
Outros episódios também contribuíram para o desgaste do dirigente com o elenco e a cúpula do clube. As negociações mal conduzidas com Victor Hugo, Pedro, Gerson, Arrascaeta e Lorran acirraram o clima. A condução do caso do atacante Pedro, revelada após uma reportagem de Mauro Cezar Pereira, foi apontada como um fator determinante para o estopim da crise.
Segundo informações veiculadas, Boto teria sido a fonte da matéria que indicava uma possível negociação do centroavante por 15 milhões de euros.
Situação contratual e possibilidade de saída
Apesar do ambiente conturbado, a rescisão contratual de José Boto envolve uma multa estimada em R$ 2 milhões, aplicável em caso de rompimento unilateral por qualquer das partes. O contrato do dirigente segue moldes semelhantes ao dos atletas, com vínculo trabalhista e direito de imagem.
Existe ainda uma cláusula que determina o pagamento integral do valor, acrescido de 30%, se não houver aviso prévio de pelo menos um mês por parte do próprio profissional.
Segundo apuração do jornalista Fabrício Lopes, a direção rubro-negra não considera a hipótese de demissão. “A situação de José Boto hoje não é de demissão, BAP quer apenas alinhar os objetivos com o dirigente português, que só deixará o clube se pedir seu desligamento”.
Declarações e desgastes internos
O próprio BAP, em sua única entrevista coletiva desde que assumiu a presidência, afirmou que o comando do futebol seria entregue a um diretor técnico, e que seu papel seria apenas de veto. “Claro que a caneta no fim das contas é minha, mas vou muito mais na linha de vetar do que de tomar decisões por ele”.
Contudo, as falas públicas de Boto — como a entrevista ao jornal Gazzetta dello Sport, em que mencionou possíveis nomes para substituir Filipe Luís — foram mal recebidas por pessoas do clube. O desgaste foi ainda maior quando, em entrevista ao ge, ele afirmou:
“Para dizer o que mais machucou foi uma falta de comprometimento, sabe? Não pode ser o treinador e o diretor as pessoas que entram primeiro e saem por último”.
Ambiente no elenco e clima interno
Nos primeiros meses de trabalho, o português chegou a ganhar prestígio por afastar interferências políticas do vestiário e defender os jogadores em questões internas. Porém, atualmente, relatos apontam distanciamento com lideranças do elenco, inclusive com críticas públicas indiretas, como no caso de Arrascaeta.
O uruguaio chegou a postar em rede social: “O tempo põe cada um em seu lugar, cada rei em seu trono e cada 🤡 em seu circo…”.
A crise se reflete também nas categorias inferiores. A troca no comando da equipe sub-20, com a demissão de Cléber dos Santos logo após um título da Libertadores da categoria e a posterior saída de Nuno Campos, nome indicado por Boto, causou mal-estar no clube.
Conclusão
Em síntese, apesar das turbulências, o presidente Luiz Eduardo Baptista reitera sua confiança na continuidade do projeto liderado por José Boto. A permanência do dirigente depende exclusivamente de sua própria decisão, uma vez que a diretoria não cogita a interrupção do contrato. A estratégia agora passa por reuniões internas para reavaliar diretrizes e ajustar rotas no futebol do clube, sem rompimentos imediatos.