O Flamengo enfrenta, neste momento, o desafio de restaurar a confiança de seus jogadores no departamento médico, duramente abalado pela recente demissão de José Luiz Runco. O médico foi dispensado na quarta-feira (23), após a divulgação de uma mensagem privada na qual afirmou que De la Cruz possui uma “lesão crônica e irreparável”.
A repercussão negativa da exposição levou o presidente Bap a tomar a decisão de desligar Runco, cuja presença já era contestada internamente desde a reformulação do setor no início do ano.
Runco, que havia retornado ao clube na atual gestão, foi responsável pela nomeação de diversos profissionais de sua confiança, como os fisioterapeutas Fábio Marcelo e Fernando Campbell, o fisiologista Claudio Pavanelli e a nutricionista Silvia Ferreira.
Entretanto, o grupo de profissionais passou a enfrentar resistência de parte do elenco, que considerava algumas metodologias “ultrapassadas” e diferentes das aplicadas em grandes clubes da Europa e do Brasil. Recuperá-la é o grande próximo desafio da gestão.
Ambiente de desconfiança e reação da diretoria
Ainda que o Flamengo não tenha divulgado oficialmente a demissão, a movimentação política nos bastidores foi intensa. O presidente assumiu o controle da situação e blindou o departamento de futebol, desvinculando o nome de Runco das decisões cotidianas do elenco principal.
Embora ele não participasse diariamente do atendimento aos jogadores, sua autoridade na hierarquia médica era reconhecida, sobretudo em decisões institucionais e contato com seleções nacionais.
Agora, existe a possibilidade de mais mudanças no setor. A necessidade de restaurar a credibilidade e criar um ambiente de segurança entre atletas e profissionais de saúde é vista como urgente no Ninho do Urubu. O episódio evidenciou uma tensão prolongada, que se agravou com a exposição pública do diagnóstico de De la Cruz.
Reações no elenco rubro-negro
O desconforto causado pela exposição do volante uruguaio foi amplamente sentido entre os jogadores. Após a vitória por 2 a 1 sobre o Bragantino, na quarta-feira (23), Arrascaeta desabafou sobre o impacto da crise fora das quatro linhas: “É muito difícil estar focado dentro do campo e treinando quando acontecem coisas assim. Temos que continuar focados, mas têm situações pontuais que são difíceis”.
Em solidariedade ao companheiro, o camisa 10 publicou uma foto ao lado de De la Cruz com a legenda: “Se trata de cuidar dos nossos. Simples assim”. O zagueiro Léo Ortiz também reforçou o apoio ao colega: “Ficamos tristes pelas palavras que foram usadas. Vamos dar muita força para que ele possa voltar e nos ajudar”.
Posição do treinador e estrutura coletiva
Mesmo com o ambiente conturbado, Filipe Luís destacou a força do grupo e elogiou a postura dos atletas. Segundo o treinador, “essas coisas externas machucam, mas, no fim das contas, é um grupo fechado, de amigos, irmãos. É blindado a esse tipo de coisa”.
A atuação diante do Bragantino foi exaltada pelo técnico, que classificou o desempenho como inédito: “Eu não tinha visto nenhum time fazer dentro do estádio deles o que a gente fez”.
Filipe também valorizou a entrega de jogadores como Everton Araújo, Viña e Wallace Yan, além da possível despedida de Wesley, que está com negociação avançada com a Roma.
Foco mantido dentro de campo
Apesar da instabilidade nos bastidores, o Flamengo mantém bom rendimento esportivo. Após a parada para a Copa do Mundo de Clubes, a equipe soma três vitórias e uma derrota. A última vitória, construída fora de casa e sob pressão, evidenciou a capacidade de reação do elenco mesmo em meio à turbulência interna.
O clube segue movimentando-se no mercado para manter o elenco competitivo. Já foram acertadas as chegadas de Saúl e Emerson Royal, e o Flamengo negocia com Samuel Lino, do Atlético de Madrid. A estrutura de grupo, combinada com o comando de Filipe Luís, tem permitido que o time suporte a saída de nomes como Gerson e, eventualmente, Wesley.