Revelado pelas categorias de base do Bahia, Yuri Lara vive um dos momentos mais emblemáticos de sua carreira. Atualmente no Yokohama FC, do Japão, o volante de 31 anos acompanha à distância o confronto entre Vasco e CSA pelas oitavas de final da Copa do Brasil.
O que para muitos é apenas mais uma partida decisiva do calendário nacional, para ele representa um dilema emocional: o reencontro com os dois clubes que mais marcaram sua trajetória profissional. CSA e Vasco se enfrentam nesta quarta-feira (30), às 19h, no Estádio Rei Pelé.
Natural da Pavuna, Zona Oeste do Rio, Yuri cresceu imerso no ambiente vascaíno. Com familiares e amigos fervorosamente ligados ao clube, o então torcedor chegou a frequentar as arquibancadas de São Januário antes de realizar o sonho de vestir a camisa cruzmaltina.
Em 2022, esse sonho se concretizou quando foi contratado como primeiro reforço da temporada e tornou-se peça-chave no acesso à Série A. “É o clube do meu coração”, disse.
CSA: recomeço e retribuição
Contudo, antes de alcançar esse momento, Yuri enfrentou uma fase desafiadora. Após ser lançado pelo Bahia em 2015, ele sofreu duas rupturas de menisco e passou por três cirurgias, ficando quase dois anos afastado dos gramados.
Sem perspectivas e com a carreira em risco, viu no CSA uma nova oportunidade. O clube alagoano o contratou por empréstimo em 2018, mesmo após o volante ter atuado em apenas sete jogos nas duas temporadas anteriores.
“Eu passava por um momento muito difícil. O Bahia não ia me utilizar e eu não tinha para onde ir, entendeu? Não tinha perspectiva”.
Foi no CSA que Yuri reencontrou o ritmo de jogo. Naquele mesmo ano, disputou 30 partidas, conquistou o título estadual e ajudou o clube a alcançar o vice-campeonato da Série B, retornando à elite após três décadas.
“E o CSA me abriu as portas. Eu voltei para o futebol por conta do CSA. É um sentimento muito forte também, é um clube muito importante para a minha carreira”.
O acesso pelo Vasco e a Batalha de Itu
O retorno a São Januário, em 2022, trouxe consigo uma carga emocional intensa. Com o clube pressionado após fracassar no acesso em 2021, Yuri sentia o peso da responsabilidade como torcedor e jogador.
“Eu sabia da importância que era aquele ano. […] Então eu tinha muito medo de as coisas não darem certo no início”.
Na Série B daquele ano, o volante participou de 34 das 38 rodadas e acumulou 40 jogos na temporada. A atuação mais marcante ocorreu em 6 de novembro de 2022, na chamada “Batalha de Itu”, quando o Vasco venceu o Ituano por 1 a 0 e garantiu o acesso.
“Aquela Batalha de Itu foi pesada, acho que cada jogador ali carregava um fardo muito grande”.
Embora tivesse cláusula de renovação automática no contrato, Yuri recebeu uma proposta do Yokohama FC e decidiu mudar de continente. Segundo o próprio atleta, a decisão foi influenciada por fatores familiares e pela experiência anterior no futebol japonês.
Torcida dividida, sentimento único
Apesar da identificação com o Vasco, Yuri reconhece o papel essencial do CSA em sua carreira. O carinho permanece, mas admite que parte da torcida alagoana se frustrou com sua ida ao time carioca ao final da temporada 2021.
“Eu tenho uma dívida muito grande com o CSA. Tem uma parte da torcida que eu preciso de alguma forma tentar recompensar porque eles ficaram brabos comigo quando eu saí do CSA pela segunda vez para ir para o Vasco”, completou.
Escolher um lado? Impossível
Diante do duelo entre os dois clubes que mais o marcaram, Yuri prefere não tomar partido. Ao ser questionado sobre sua torcida no confronto da Copa do Brasil, o jogador escolheu a neutralidade.
“Acho que vou ficar em cima do muro nessa porque são dois clubes muito importantes na minha carreira. Se fosse qualquer outro clube que eu tivesse jogado, sem ser Vasco e CSA, eu daria meu palpite. Mas dessa vez eu vou ficar em cima do muro (risos). Vou torcer aqui, vou assistir, mas sem escolher um. Quem jogar melhor e passar, está tudo bem”.
Estatísticas e desempenho
Na campanha do acesso pelo Vasco em 2022, Yuri somou 3.054 minutos em campo e duas assistências. Atuou majoritariamente como volante e meia central, reforçando sua versatilidade tática.
Com passagens também por Bahia, Oeste, Ferroviária e Tochigi, Yuri acumula 93 jogos pelo Yokohama FC até o momento, com 11 gols e três assistências.
