A decisão do Flamengo de recuar na venda de Matheus Gonçalves ao Cruzeiro marcou mais um episódio de instabilidade no planejamento rubro-negro durante a janela de transferências do meio do ano. A negociação estava em estágio avançado, com valores definidos e acordo entre os presidentes dos clubes, mas acabou frustrada após reações internas e entre torcedores.
Revelado pelas categorias de base do Flamengo, o atacante de 19 anos estreou no time profissional em 2022 e chegou a ser emprestado ao Bragantino na temporada passada. Desde a chegada de Filipe Luís ao comando técnico, o jovem passou a ter menos espaço entre os titulares. A última aparição no time principal ocorreu em maio, contra o Botafogo-PB, pela Copa do Brasil. Desde então, ele pediu para voltar ao sub-20, para ganhar ritmo de jogo, e foi destaque recentemente ao marcar dois gols contra o Botafogo.
A proposta do Cruzeiro envolvia o pagamento de 3,5 milhões de euros (cerca de R$ 22 milhões) por 50% dos direitos econômicos do atleta. Inicialmente, o clube mineiro ofereceu o valor em três parcelas, mas aceitou o pagamento à vista após exigência do Flamengo. Mesmo com o acerto entre as diretorias, o presidente rubro-negro Rodolfo Landim, conhecido como Bap, optou por não seguir com a negociação, sem apresentar justificativas ao clube mineiro.
A desistência causou surpresa em Belo Horizonte e desconforto nos bastidores. Durante partida do sub-20 na segunda-feira (14 de julho), Matheus Gonçalves foi informado da mudança de postura em entrevista ao vivo. O jogador reagiu com serenidade:
“Não estava sabendo, estou sabendo agora. Antes do jogo, o que foi dito para mim e para o estafe era que os presidentes Bap e Pedrinho já tinham um acerto. Estou sabendo agora. Já tinha a palavra deles. Mas se o Flamengo não quer me vender e quer que eu fique, vou trabalhar duro e conquistar meu espaço. É o que eu sempre sonhei. Estou aqui desde os 12 anos, feliz demais e grato. Se não quer me vender, vou trabalhar para conquistar meu espaço dentro de campo, tenho total capacidade de ajudar o Filipe Luís e o Flamengo no restante da temporada”.
No Cruzeiro, o nome de Matheus já era avaliado há algum tempo, mas a proposta formal só ocorreu com o aval do técnico Leonardo Jardim. O treinador comentou no fim de semana que, em negociações, existem diferentes fases, e que tudo pode mudar antes da assinatura final dos contratos:
“Em uma contratação, há cinco momentos (…). Enquanto o outro (assinatura de papéis) não estiver resolvido, não existem entradas ou saídas”.
Internamente, a mudança de rumo foi mais um reflexo das divergências entre os dirigentes do Flamengo. A atual gestão tem enfrentado atritos e decisões contraditórias, como ocorreu também nas tratativas com Mikey Johnston e Victor Hugo. O cenário levou à reestruturação parcial da hierarquia das categorias de base e exigiu reuniões para tentar harmonizar as decisões do departamento de futebol.
