Primordialmente, o remake de Vale Tudo (2025) resgatou uma das passagens mais marcantes e controversas da história da teledramaturgia brasileira. A sequência da venda do bebê por Maria de Fátima, originalmente exibida em 1988, voltou ao centro da narrativa nos capítulos finais da nova versão da novela da Globo.
Na trama atual, a personagem interpretada por Bella Campos engravida de César (Cauã Reymond) e, em crise financeira e emocional, decide vender a criança para um casal estrangeiro com a ajuda do oportunista Olavo (Ricardo Teodoro).
Conforme revelado pela produção, essa virada impactante deverá ir ao ar entre setembro e outubro, com Raquel (Taís Araujo) assumindo papel decisivo ao descobrir a transação e tentar impedir o desfecho, decidindo criar o neto por conta própria.
O contexto dramático por trás da decisão
Anteriormente rejeitada por Afonso (Humberto Carrão), a personagem mergulha em um dilema moral que evidencia, acima de tudo, a tensão entre ambição e vulnerabilidade. Aliás, a releitura assinada por Manuela Dias dá novos contornos ao drama, substituindo o valor simbólico da transação de 25 mil dólares da versão original por motivações mais centradas em desigualdade social e desamparo emocional.
Enquanto isso, Olavo surge como peça-chave na articulação do negócio, reforçando a exploração do desespero alheio, algo que dialoga com os debates contemporâneos sobre tráfico humano e adoção irregular.
Inspiração internacional e atualização narrativa
A autora Manuela Dias revelou que a atualização de outra trama central — o boicote à rede de restaurantes Paladar — surgiu a partir de eventos reais. Segundo ela, o apagão que afetou Portugal e a Espanha no dia 28 de abril foi decisivo para inspirar a nova versão do episódio da maionese contaminada.
“Desde que comecei a pensar o remake, me preocupava com esse fator de incomunicabilidade de que o evento da maionese precisava”, explicou a roteirista. “Quando aconteceu o apagão na Espanha e em Portugal, uma coisa quase inimaginável para os nossos tempos, pensei: ‘É isso!’”.
A reinterpretação não apenas modernizou a sequência, mas também alterou pontos de vista narrativos. Se na versão de 1988 a personagem Celina descobria o plano por meio do motorista Jarbas, agora é a própria Odete Roitman quem revela à irmã o plano de sabotagem, imprimindo nova dinâmica à trama.
Produção, elenco e bastidores
Com direção artística de Paulo Silvestrini e supervisão de José Luiz Villamarim, Vale Tudo conta com colaboração de roteiristas como Aline Maia, Claudia Gomes, Márcio Haiduck, Pedro Barros e Sérgio Marques.
A novela é exibida no horário nobre da Globo e tem direção geral de Crisano Marques, além de Isabella Teixeira, Augusto Freitas e Matheus Senra na equipe de direção.
O novo elenco também incorporou mudanças expressivas nos perfis dos personagens. Mário Sérgio (Thomás Aquino), por exemplo, foi transformado de jornalista ético para cúmplice da vilania de Odete (Débora Bloch), participando ativamente do plano para difamar a Paladar por meio de uma denúncia falsa de envenenamento.
Reações e expectativas
A regravação da clássica cena da maionese, marcada pela icônica frase “Ninguém come essa maionese de jeito nenhum”, dita por Nathalia Timberg na primeira versão, também foi preservada. No remake, a fala será repetida por Malu Galli, que interpreta Celina em 2025.
De acordo com a pesquisadora Ana Paula Gonçalves, autora de um livro sobre a novela, a manutenção dessa trama busca, sobretudo, criar um elo afetivo com o público antigo. “Manter esta história em 2025 é uma forma de acarinhar o público da primeira versão, que fica ansiando pela reprodução, nos nossos tempos, de uma cena com valor afetivo”, afirmou.
