A Confederação Brasileira de Futebol estabeleceu como prioridade a criação de um sistema de fair play financeiro no país até o ano de 2026. A iniciativa é liderada por Ricardo Gluck Paul, vice-presidente da entidade e atual presidente da Federação Paraense de Futebol, que tem usado termos contundentes para descrever a situação financeira do futebol nacional. Segundo ele, a urgência da medida é inegociável.
Durante sua participação no fórum Sustentabilidade em Campo, realizado em São Paulo na segunda-feira (04), Paul afirmou que o momento exige ação imediata por parte dos gestores do esporte. “Estamos no caos. A CBF escolheu jogar a boia”, declarou o dirigente ao defender a adoção de critérios rigorosos para equilibrar as finanças dos clubes.
Comissão mista e prazo de 90 dias
Com o intuito de formalizar um modelo viável, foi criada uma comissão integrada por representantes de 33 clubes — os 20 participantes da Série A e mais 13 da Série B — além de dez federações estaduais. Esse grupo tem como missão elaborar, em até 90 dias, um relatório técnico que servirá de base para a implementação do modelo nacional de controle financeiro.
Segundo o dirigente, o encontro inaugural da comissão está previsto para segunda-feira (11), na sede da entidade, no Rio de Janeiro. A proposta é que as medidas adotadas tenham aplicação progressiva, respeitando estágios de transição e adaptação.
“Agora, naturalmente, e isso é uma opinião pessoal, creio que haverá necessidade de construir uma onda inicial, uma intermediária e assim por diante”, explicou.
Referência internacional e lições ignoradas
Gluck Paul criticou a inércia dos anos anteriores e relembrou que as primeiras discussões sobre contenção de gastos ocorreram ainda em 2019. Conforme destacou, o cenário já era preocupante naquela época, mas nenhuma medida concreta foi tomada.
“É como se, naquela época, a gente visse o Titanic na direção do iceberg e tivesse como desviar. O navio bateu no iceberg e está afundando”, lamentou.
A CBF pretende se inspirar em modelos como os adotados na Premier League e na LaLiga, além das diretrizes estabelecidas pela Uefa. Nessas ligas, há limites definidos para gastos dos clubes, inclusive com punições severas — como exclusão de competições — para quem não respeita os critérios estabelecidos.
Mobilização institucional
Embora a proposta ainda esteja em fase de formatação, há adesão significativa entre os participantes. Todos os clubes da Série A e a maioria das agremiações da Série B já demonstraram apoio, assim como dez federações estaduais. A estruturação do projeto, segundo a CBF, é uma resposta à desorganização generalizada nas finanças de diversos clubes.
“Tem quem escolhe tocar música e esperar o navio afundar, e quem joga a boia para ajudar os outros”, concluiu Gluck Paul, reforçando o compromisso da entidade com o reequilíbrio estrutural do futebol brasileiro.