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Torcida se mobiliza, mas não impede venda de time paulista: ‘Ódio eterno ao futebol moderno’

Após desistir da disputa da Copa Paulista em 2025, o clube planeja retornar às atividades em 2026

O Clube Atlético Juventus, fundado em 1924 na Mooca, aprovou a criação de uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), marcando um novo capítulo em sua trajetória centenária. A votação realizada no dia 28 de junho registrou 322 votos favoráveis, contra 62 contrários, além de um voto nulo e três brancos.

Com isso, o futebol do clube foi transferido para gestão da REAG Capital Holding e da Contea Capital, que se comprometeram a injetar R$ 500 milhões no projeto ao longo dos próximos dez anos.

Planejamento inclui reforma da Javari e retorno à elite

Conforme a proposta aprovada, a SAF tem como meta recolocar o Juventus na Série A do Campeonato Brasileiro até 2035. Para alcançar esse objetivo, estão previstas reformas no Estádio Conde Rodolfo Crespi — a Rua Javari — com a ampliação da capacidade atual de 4.500 lugares para até 15 mil pessoas.

A modernização inclui ainda a construção de um centro de formação de atletas, centro de fisioterapia, spa, academia, além de novas instalações administrativas, hotel e restaurantes no entorno do estádio.

“É uma honra para a REAG Capital Holding fazer parte desse novo capítulo da história do Clube Atlético Juventus”, declarou João Carlos Mansur, presidente do conselho de administração da REAG. “Vamos trabalhar com seriedade e profissionalismo para devolver ao Juventus o lugar que nunca deveria ter saído, ou seja, o topo do futebol estadual”.

Controvérsias envolvendo o tombamento e oposição

Apesar do entusiasmo dos dirigentes, o projeto esbarra em limitações legais. O estádio da Mooca é parcialmente tombado pelo Conpresp desde 2019, o que preserva fachada, muros, pátios internos, gramado, alambrados e volumetria das arquibancadas laterais.

A Reag afirmou que seguirá todas as diretrizes da gestão municipal, mas há ceticismo por parte de ex-dirigentes e opositores quanto à viabilidade das obras.

“Estão enganando todos os que gostam do Juventus. O tombamento inviabiliza boa parte do que anunciaram”, disse o empresário Marcello Betone, ex-candidato à presidência do clube. “A SAF pode até ser viável, mas o projeto que anunciaram é a maior ‘fake news’ que o bairro já viu”.

Reação negativa entre torcedores e conselheiros

O processo de transformação em SAF, aprovado pouco tempo após a reeleição de Tadeu Deradeli por uma margem mínima de dois votos, acentuou o clima de divisão interna. Parte da torcida organizada Setor 2 se manifestou contrária, utilizando expressões como “O Juventus morreu” e “Fizemos a nossa parte” em um ato simbólico de despedida em frente ao bar do Tostão, ao lado do estádio.

A frase “Ódio eterno ao futebol moderno”, estampada frequentemente nos alambrados da Javari, sintetiza o desconforto de muitos com a decisão. “Tradição não se vende. O clube pelo qual aprendi a amar acabou e não vou mais aos jogos”, afirmou o professor Henrique Gil, morador a poucos metros do estádio.

Deradeli rebate as críticas e defende o novo modelo. “Futebol raiz morre. Tem que organizar para sobreviver. O clube é o mesmo, o Juventus é o mesmo de antes”.

Histórico e situação esportiva do clube

Revelador de talentos como Julinho Botelho, Félix e Fernando Diniz, o Juventus tem enfrentado um longo período de ausência no cenário nacional. Após desistir da disputa da Copa Paulista em 2025, o clube planeja retornar às atividades em 2026, disputando a Série A2 do Campeonato Paulista.

Atualmente, a parte social do clube segue sob administração independente, com previsão de receber R$ 25 mil mensais de aluguel, valor considerado simbólico por setores da oposição.