A Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE), vinculada ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), instaurou inquérito para investigar possíveis desvios de materiais esportivos do Corinthians.
O procedimento tramita no Foro Central Criminal da Barra Funda, sob a condução do juiz José Fernando Steinberg, no Anexo de Defesa do Torcedor, unidade especializada em crimes ligados ao futebol.
A investigação foi requisitada pelo Ministério Público de São Paulo, após o promotor Cássio Roberto Conserino tomar conhecimento de uma auditoria interna conduzida pelo clube. Segundo apuração da Trivela, o inquérito cita o Corinthians como vítima e ainda não identificou os responsáveis.
Dois registros policiais abertos em 2025 estão vinculados ao caso.

Auditoria interna levanta suspeitas
As primeiras suspeitas surgiram ainda durante a gestão de Augusto Melo, que foi destituído da presidência em 9 de agosto. Em 2023, o Conselho de Orientação do Corinthians (CORI) já havia apontado três problemas: ausência de notas fiscais para materiais enviados ao CT, falta de controle nas retiradas e estouro da cota contratual com a Nike.
Em 2024, o clube retirou 33.902 itens da fornecedora, o que representou cerca de R$ 13 milhões — R$ 9 milhões acima do previsto em contrato. Em 2025, segundo apuração da Trivela, esse número subiu para mais de 40 mil peças, com valor estimado de R$ 10,5 milhões.
A redução do montante financeiro é explicada por uma queda de 30% nos preços praticados pela Nike neste ano.
O levantamento de janeiro de 2025 é especialmente delicado: foram 17 mil itens retirados apenas no primeiro mês do ano, ainda sob administração de Augusto Melo. Ao ser questionado, o ex-presidente afirmou:
“Se a cota de retirada de produtos da Nike foi estourada, já não é problema meu. Na nossa gestão, está tudo documentado. É só mandarem mostrar alguma coisa que não esteja documentado.”
Armando Mendonça é citado na investigação
Após o afastamento de Melo em 27 de maio, o vice-presidente Armando Mendonça assumiu o controle da retirada de materiais no CT Joaquim Grava e no Parque São Jorge. Ele é apontado como um dos principais nomes envolvidos na apuração interna conduzida pelo clube.
A Trivela teve acesso a uma mensagem enviada por Mendonça no início da auditoria, na qual ele explica que ordenou um inventário completo do almoxarifado no CT e reforçou que o controle no Parque São Jorge já estava atualizado.
Na mesma ocasião, Mendonça determinou que, a partir de 27 de maio, todas as notas fiscais deveriam ser lançadas obrigatoriamente no sistema interno do clube, além da criação de um processo formal de requisição e aprovação de materiais.
A apoiadores, ele defendeu a lisura de sua atuação e ressaltou: entre junho e setembro de 2025, o clube solicitou menos produtos do que no mesmo período do ano anterior.
Outros nomes também são investigados
Além de Armando Mendonça, o inquérito menciona o diretor administrativo Fabio Soares e o gerente administrativo Rafael Salomão como figuras ligadas à movimentação dos materiais. O Ministério Público recomendou que os responsáveis pela auditoria interna sejam ouvidos durante a apuração conduzida pela Polícia Civil.


