A Justiça do Rio de Janeiro absolveu, na terça-feira (21), os sete réus envolvidos no processo criminal sobre o incêndio que atingiu o centro de treinamento do Flamengo, em fevereiro de 2019, e resultou na morte de dez jovens das categorias de base. Uma decisão que revoltou torcedores e pessoas ligadas ao futebol.
A tragédia também deixou outros três atletas feridos. A decisão, assinada pelo juiz Tiago Fernandes de Barros, da 36ª Vara Criminal da Comarca da Capital, ainda cabe recurso.
O magistrado fundamentou a sentença na ausência de culpa penalmente relevante e na falta de nexo causal entre as condutas e a origem do incêndio. Segundo a decisão, a perícia foi inconclusiva quanto ao ponto de ignição, e o Ministério Público não conseguiu individualizar as responsabilidades de cada envolvido. O processo tramitava desde janeiro de 2021.
Entenda os motivos da absolvição
O juiz afastou qualquer responsabilidade criminal dos acusados com base nos limites de suas funções. Márcio Garotti, diretor financeiro do Flamengo entre 2017 e 2020, foi absolvido por não ter atribuições sobre segurança ou manutenção. Marcelo Maia de Sá, diretor adjunto de patrimônio, também teve a denúncia rejeitada por atuar exclusivamente na área administrativa.

Três engenheiros da NHJ, empresa responsável pelos contêineres usados como alojamento, foram inocentados: Danilo Duarte, que atuava apenas como supervisor operacional; Fábio Hilário da Silva, responsável pelo projeto elétrico inicial; e Weslley Gimenes, que cuidava da parte estrutural, sem relação com materiais ou sistemas de segurança.
Claudia Pereira Rodrigues, que assinou os contratos com a NHJ, teve sua participação classificada como estritamente comercial. Já Edson Colman, sócio da empresa que fazia manutenção dos aparelhos de ar-condicionado, foi absolvido por falta de provas que o relacionassem à origem do incêndio.
Reação nas redes e impacto público
A decisão provocou forte reação entre torcedores do Flamengo e familiares das vítimas. Nas redes sociais, diversos perfis ligados ao clube demonstraram indignação.
“A absolvição de todos os réus pelo incêndio no Ninho do Urubu é um grito silencioso de dez vidas interrompidas e de famílias condenadas à dor eterna. Esses meninos sonhavam com o futebol, carregavam o escudo do Flamengo com orgulho e acreditavam que o campo seria o caminho para um futuro melhor”, disse um perfil voltado ao clube.
E prosseguiu: “Hoje, o que resta é a ausência, o vazio e a impunidade com cara de justiça. O Flamengo sempre jogará por eles, mas o Brasil ainda deve a eles o que há de mais sagrado: verdade, responsabilidade e o direito à memória”, protestou.
Acordos com as famílias e desfecho judicial
Nos últimos anos, o Flamengo firmou acordos de indenização com os familiares dos dez jovens que perderam a vida. O último foi fechado em fevereiro de 2025, com os pais do goleiro Christian Esmério, a única família que ainda mantinha ação judicial. Na ocasião, o clube informou que todas as pendências legais estavam encerradas.


